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tofliEthssão de Unhas Telegraphicas Estratégicas de Matto-Orosso ao Amazonas

(Publicaç&o n.° 49)

1 Mêm lufes e i Ira Miai

(Conferencias realizadas pelo Professor ALíPÍO DE MIRANDA SlBEÍàO, óo Museu NadORa! do Sio de janeiro, em 1916)

RIO DE JAKÇJBO tnii M*çcdb Ç. ~ Hw» de Quituaí *,

A Commissão Rondon

e o Museu Nacional

CONFERENCIAS

POR

Alipio de Miranda Ribeiro

UOTANiCAV

u

lf Conferencia

Trabalhos da Commissão Rondon

no

Campo das Sciencias Naturaes

MM

mim

 Commissão Rondon e o Museu Nacional

Motivo da conferencia = Trabalhos da Commissão no Campo das Sciencias Naturaes (,)

PRECLARO AUDITÓRIO : Quando volveu da conclusão da Linha Te- legraphica de Matto-Grosso ao Amazonas, em 1914, o Coronel d'Engenhei- ros, Cândido Mariano da Silva Rondon, falkm-me o Dr. Roquette Pinto sobre a conveniência do Museu Nacional prestar uma homenagem áquelle benemérito concidadão, dizendo-se decidido á pleitear esse intento junto á directoria do Museu; respondi-lhe, apoiando a idéa, que essa homenagem po- deria ser traduzida numa serie de conferencias feitas por aquellas secções em débito para com o Coronel Rondon.

Embora, então, cuidássemos do assumpto, coube ao Dr. Bruno Lobo, ha pouco nomeado director d"esta casa, protegel-o ; e eis porque, após as bri- lhantes e agradáveis dissertações de meus collegas - - Dr. Edgard Rouquette Pinto e Snr. Alberto José de Sampaio, aqui me acho hoje, pedindo alguns momentos á vossa attençâo.

Fallar em Cândido Mariano da Silva Rondon não é fácil, eu o con- fesso : não que os aspectos sympathicos pelos quaes elle se nos apresenta deixem de ser todos os aspectos pelos quaes o quizessemos analyzar ; mas os aspectos de Rondon são múltiplos, constituem elementos para estudos mais demorados e abrangem assumptos alheios aos fins d'esta casa e... do meu campo de acção.

Demais, as minhas passadas funcções de zoologo da Commissão Ron- don, durante a expedição de 1908 á 1909 que varou os sertões brasileiros, do Juruena ao Madeira ; as minhas actuaes funcções honorárias junto d'essa

(I) Orthographia e revisão do autor. Escriptorio Central, 6/XII/1920.

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Commissão, cm que tenho em mãos ou superintendo trabalhos de Historia Natural ainda não concluídos, difficultam o caso e me forçam á procurar um assumpto que não infrinja as leis da disciplina 'moral das minhas res- ponsabilidades para com o meu grande amigo, não antecipe o seu juizo de chefe, irrompendo em mdiscripções de assumptos que tenham de ser apre- sentados ao seu julgamento.

D'ahi o meu thema a relação entre o trabalho de Rondon, na Com> missão de Linhas Telegraphicas Estratégicas de Matto-Grosso ao Amazo- nas, no campo das sciencias naturaes e o estabelecimento que, na União, é destinado ao cultivo e desenvolvimento dessas sciencias.

Comecemos :

O artigo XV das «instrucçõ-es» baixadas pelo Ministério da Viação e assignadas pelo Dr. J. F. Soares Filho, approvadas com a portaria de 4 de Março de 1907, do Ministro Dr. Miguel Calmon du Pin e Almeida, die aecôrdo com a lettra b do n.° XXI do Art.° 53 da lei n.° 1.617 de De- zembro de 1907, estabelecia que a Commissão Rondon faria o estudo:

Da região sob pontos de vista diversos e dos produetos extra- ctivos d'esta, principa/mente os mineraes.

D'aquelle anno ao presente momento, teve a Commissão esses estu- dos distribuídos do seguinte modo :

TRABALHOS III-: CAMPO

1907 á 1908 ETHNOGRAPHIA E GEOLOGIA - Dr. Karl Carnier

1908 á 1910

GEOLOGIA E MINERALOGIA . -Dr. Cícero de Campos

BOTÂNICA -Frederico Carlos Hoehne

ZOOLOGIA ......... -Alipio de Miranda Ribeiro

ETHNOGRAPHIA -Dr. Cândido Mariano Rondon

1910 á 1912 GEOLOGIA E MINERALOGIA . Dr. Moritz

BOTÂNICA -Fred. Carlos Hoehne

ZOOLOGIA Frederico Carlos Hoehne e irmãos

Kuhlmann ETHNOGRAPHIA Drs. C. M. Rondon e Roquette Pinto

1913 á 1914 GEOLOGIA E MINERALOGIA . -Dr. Euzebio de Oliveira

BOTÂNICA —Fred. Carlos Hoehne

ZOOLOGIA Fred. Carlos Hoehne, Arnaldo Black

de Sant'Anna e H. Reinisch Tte. António Pyrineus de Souza e E. Stolle ETHNOGRAPHIA -Dr. Rondon

7

1914 á 1915

BOTÂNICA -F.C. Hoehne

ZOOLOGIA -Dr. Cândido Mariano Roridon e E.

Stolle; Tte. António Pyrineus die Souza e Antenor Pires; Júlio H. Barbosa (Arinos) e João Geraldo Kuhlmann ; Tte. Vasconcellos e Dr. Serapião dos Santos

ETHNOGRAPHIA Dr. Rondon.

A elaboração do material colhido tem ficado á cargo, óra de algumas das pessoas supramencionadas, óra, ao contrario, de especialistas estranhos á Commissão.

Entre uns e outi podemos referir o Dr. Karl Carnier (de Ber- lin), os Drs. Alberto Betim Paes Leme e Euzebio de Oliveira que se têm occupado da Geologia e Mineralogia ; Frederico Carlos Hoehne, o Dr. Al- fredo Cogniaux (da Bélgica), o Dr. Harms (de Berlin) que se têm occupado da Botânica; o Snr. Carlos Moreira, os Drs. Hermann von Jhering e Adol- pho Lutz e o conferencista de hoje, todos tratando de Zoologia ; os Drs. Cândido Mariano Rondon e Edgard Roquette Pinto que têm tratado da An- thropologia.

Outros especialistas ha trabalhando em grupos dados d'esta ou daquella matéria os seus nomes, entretanto, não são ainda referidos porque ainda não remetteram os resultados dos trabalhos que quizeram tomar á si. E' também provável que todos ou uma parte dos que accorreram ao primeiro appello tenham novas incumbências isso, porém, é matéria que o desdo- bramento do trabalho poderá regular.

Não é fora de propósito lembrar aqui, o modo criterioso e sábio da Commissão Rondon, documentando as suas asseverações. Cada um de vós que me ouvis, poderá examinar, peça por peça, os elementos que figuram n'esse monumento erigido pela sabedoria do Coronel Rondon. Cada um dos nossos tétranétos poderá commentar, com os objectos colligidos hoje pela Commissão, as palavras guardadas pela escripta dos relatórios publicados.

Esse papel parcial dos Museus aqui reconhecido e proclamado pelo Chefe da Commisjão, deve causar assombro, porque, infelizmente estamos habituados ao contrario.

Quantas Commissões brasileiras anteriores á Rondon e mesmo tra- tando de historia natural, procederam desse módoí, em cem1 annos que a União possue um Museu para esse estudo ? Que eu saiba três : A Commissão Freire Allemão, única abrangendo as funcções d'este Museu que se aventurou á par- tir para as mattas do temeroso Brasil; e as Commissões Hartt e Crulz. Esta teve organização quasi idêntica para o estudo da natureza, foi a Commis- são do Planalto Central.

Eu vi, na sala anterior do pavimento térreo do edifício dos Telegra- phos a prova do esforço do geólogo e do botânico. Onde está o imaterial colhido ? Sei, apenas que 500 plantas entraram para o Museu.

Ficarão diminuídos, senão de todo perdidos os extensos relatórios que aquella Commissão publicou sobre esse assumpto, se as provas materiaes não foram archivadas. Quer isto dizer que, ainda ahi, o Estado lançou fora, inutilmente, dinheiros públicos.

PI BI H HOIS

vos fallei do pessoal que ágio no campo; disse também os nomes dos especialistas que elaboraram uma parte do material, devo mostrar, então, em que consistio essa elaboração publicada.

Mineralogia e Geologia

O Snr.Karl Carnier apresentou o seu estudo baseado, segundo declara, em observações superficiaes, feitas durante a marcha - - observações, além disso, incompletas pela perda de uma parte de sua bagagem, inclusive um dos diários.

Comtudo, das suas notas Observações Geológicas Geographicas e Ethnographicas sobre a viagem de exploração de Cuyabá á Serra do Norte, passando por S. Luiz de Cáceres , deprehende-se ter o Snr. Carnier per- corrido a região de Cuyabá á Cáceres e de Cáceres á Utiarity e Campos No- vos da Serra do Norte. Podemos precisar, mesmo, ter sido Ultimo Acam- pamento da trajectória de 1907 da Commissão Rondon, o ultimo ponto visi- tado pelo Snr. Carnier.

Todo esse vasto trecho elle o considera em três secções; a primeira comprehendida entre os rios Cuyabá e Paraguay, até a estrada d'essas duas cidades ; a segunda entre o Paraguay e a Serra dos Parecis - - pelo percurso do rio Sepotuba ; e a terceira d'essa serra até o Juruena, pela ba- cia do rio Verde até o Salto Bello e d'ahi á Campos Novos da Serra dio Norte.

Em synthese, considera elle a primeira e a segunda zona pre-devo- nianas e a terceira devoniana ; tendo reconhecido rochas eruptivas no Salto do Sepotuba, baseado não somente no facto de ter encontrado nos leitos dos riachos entulhos graníticos, phosphitos, quartzo e abetarda, corno porque as jazidas des as rochas eruptivas estão próximas dos mesmos riachos.

De fosseis apenas uma folha «impressão aliás sem valor algum».

Não sei se o Snr. Carnier col leccionou; nem se deixou no Serviço Geológico material sobre que fundamentou as suas «observações». Não me consta que a Comimissão Rondon tenha noticias de material por elle colhido, nem tampouco que o Serviço Geológico haja feito communicação n'esse sen- tido; o Snr. Carnier fora incorporado á Commissão á instancia do Dr. Or- ville Derby.

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O Dr. Ciccro de Campos não teve a fortuna de concluir o seu tra- balho; fallecendo ao chegar á Cáceres, quando buscava um porto no rio Paraguay onde embarcasse para o Rio de Janeiro, de volta de Juruena, lo- gar em que enfermou. Cicero teve, também, perdas de material e aponta- mentos, n'um naufrágio no rio Sepotuba.

O Coronel Rondou encarregou ao Dr. Alberto Betim Paes Leme de aproveitar todos os apontamentos deixados pelo mallogrado engenheiro, en- cargo 'de que o Dr. Betim se desobrigou de modo brilhante ,com o rela- tório que terminou á i de Fevereiro de 191 1 «Annexo n.° 5 Historia Na- tural — Mineralogia e Geologia.

Cicero de Campos teve mais ensejos de effectuar caminhamentos de Oeste para Este e vice-versa, na zona que vae de Caceies á Cuyabá e Diaman- tino á Juruena, do que o Snr. Carnier, o que quer dizer que elle poude cami- nhar mais vezes no sentido transversal da apresentação das rochas ali.

Na parte topographica da synthese feita pelo Dr. Betim encontra-se o planalto Parecis limitado ao Sul por uma linha encarpada «degráo de grés» primeiro vermelho e depois amarellado. A formação da Serra de Ta- pirapoan teve por consequência um derrame eruptivo de diabase, emquanto que a serra da Chapada, constituída de grés vermelho, foi grandemente en- talhada pela erozão.

No planalto Parecis propriamente dito, inclinado para o N., um pheno- meno interessante é Ponte de Pedra, prova da erozão e um verdadeiro arco produzido pelo trabalho do rio Xacuruiná.

O Dr. Cicero explica a formação desses arcos pela erosão atravez das dyaclases ou falhas apresentadas pelo grés. E liga aos derrames erupti- vos a causa fertilizadora das regiões em que elles se encontrem.

Das cadernetas o Dr. Betim extrahíu dous caminhamentos que, apezar de serem, em realidade, expeditos, nem por isso deixam de constituir o pri- meiro levantamento geológico da região percorrida.

A synthese geológica do Dr. Betim deixa o primeiro triangulo do Dr. Carnier Pré-Devoniano, a serra da Chapada Devoniana, emquanto o grés do Cambambe permanece em duvida como triasio, e a bacia do Sepotuba, o valle do Paraguay próximo á Tapirapoan e essa serra, elle suppõe serem de edade menor, em face do exame petrographico revellar o desapparecimento do caracter crystallino das rochas sedimentares.

A duvida do Dr. Betim soore o grés de Cambambe é produzida pela referencia de Cicero á uma ossada ahi encontrada, á 48 kilometros do Norte da Chapada : «consta-me terem sido esses ossos enviados á Inglaterra e me disseram' terem sido elles classificados como provenientes d 'um Dinosauro». E Cicero referia á formação permiana esse mesmo grés. Ora, a existência de tal ossada me foi revellada pelo Snr. Dr. António Corrêa da Costa, enge- nheiro residente n'esta cidade, irmão dos Drs. Pedro Celestino e Jonas Cor- rêa da Costa), ainda á bordo do «Javary» do Lloyd Brasileiro; e eu não a fui buscar, embora se tratasse de paleontologia, porque Cicero se encarregou

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da tarefa e executou-a, indo antes ás Flexinhas buscar uma outra ossada ali existente. Os caixotes d'esta passaram por mim emi Jacobina e foram, mais tarde, remettidos para o Serviço Geológico onde os procurei, juntamente com os restos do Cambambe. A' minha carta de 9 de Março de 1910 respondeu- me o fallecido Dr. Orville Derby como se segue : Serviço Geológico e Mi- neralógico do Brazil Rio de Janeiro, 11 de Março de 1910 Illm.° Snr. Alipio de Miranda Ribeiro M. D. Zoologo da Commissão Rondon. Accuso recebida sua carta de 9 do corrente que respondo. Os volumes contendo amostras de rochas e fosseis remettidos á este Serviço pelo engenheiro Cí- cero de Campos, foram abertos e examinados por mim com o fim de verificar qual o valor scientifico do seu conteúdo que se reduzia á poucos fragmentos de ossos, que foram remettidos, juntamente com os outros, ao Director da Secção de Vertebrados fosseis do Museu Britânico, Dr. A. Smith Woodward, para serem estudados. O Dr. Woodward communicou por carta que os os- sos são de um Dinosauro gigantesco, da edade mesozóica, mas insuffi- cientes para uma determinação mais minuciosa. Opportunamente as amostras remettidas pelo Serviço ao Museu Britânico serão devolvidas e então estarão ás suas ordens, como estão egualmente as que ficaram aqui, as quaes, porém, á meu ver, não valem o trabalho de os levar para fora d'esta repar- tição. Com a mais elevada consideração, etc. Orville A. Derby, Chefe do Serviço Geológico e Mineralógico do Brasil.

Diz o Dr. Betim que dos ossos das Flechas não tem noticias; eu penso que d'uma ou d'outra procedência inda poderia ser obtido algum re- sultado bom, caso se quizesse ali ir, de novo colleccionar, pois que, conforme o próprio Cicero me informou, não puderam ser completas as suas excava- ções e muita cousa ficou.

Voltando ao fio das nossas considerações, verificamos que os traba- lhos geológicos da Commissão, quer pelo gue os seus funccionarios fizeram, quer pelo que o Coronel encarregou ao Dr. Betim de fazer trazem uma sensivel modificação quanto aos conhecimentos de até ha pouco, sobre essa grandiosa zona brasileira que se chama Matto-Grosso.

Creio ser a primeira synthese da geologia d'esse estado senão a de todo Brasil, o mappa aqui presente e que encontrei ao lado da mascara de Napoleão I, sob um monte de peanhas, na sala de mineralogia do Imperador, no antigo palácio da Bôa Vista paru onde se mudara o Museu.

Ella traz os seguintes dizeres impressos : Tabula Geographica BRA- SILIAE et terrarum adjacentium exhibens Itinera Botanicorum. Em baixo d'esses dizeres impressos, encontra-se, e'scripto á pennae tinta (preta : in INSTI- TUTO Im. Reg.. Austriae Geológico, Directore Guilelmo Heidinger colo- ribus geologicis ornata a Francisco Foetterle petente I D. P. 2. No avesso, a lápis, em lettra que me parece d'este monarcha : «Devia ser collado em panno de linho quanto se tornaria liso e se conservaria de rasgos».

Pois bem, neste mappa que, á julgar pela epocha em que Heidinger foi director do Instituto Geológico da Áustria deve contar cerca de 50

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annos, essa mestra zona que foi motivo da bella memoria do Dr. Botim, fi- gura como constituída de schistos chloriticos e barrentos no triangulo Cuyabá Paraguay ; granito, gneiss, schisto micaceo e amphibolito, do Paraguay até as nascentes do Jaurú e margens do Sepotuba e, finalmente, de grés ver- melho para todas as demais zonas de que até hoje se oceupou a Com1- missão. E' bom que se diga que Foetterle assignala o grés vermelho de Parecis estendido á toda a zona septentrional e oriental de Matto-Grosso com a seguinte explicação : Arenito vermelho ou arenito vermelho quadriculado segundo Spix e Martius.

Quer me parecer que se fossemos interpretar toda esse região consi- derada, segundo o mappa de Foetterle teríamos de reconhecer a zona de Cuyabá ás nascentes de Jaurú como Archeanas, deixando o resto para a edade Devoniana.

Mas, se essa é a concepção do tempo da primeira carta geológica bra- sileira, não lhe fica á dever muito a tentativa mais moderna de 1908 - e semiofficial da Soe. Nacional de Agricultura, pois, segundo o mappa Pau- lino Cavalcanti e Wencesláo Bello, tinhamos a zona de Cuyabá á Cáceres terciária e a do Chapadão da vertente N. Arqueana, deixando apenas as margens do Arinos e do Araguaya terciárias. Assim, é fácil apprehender quanto se adiantou com o trabalho, incompleto embora, de Cioero de Campos, tão bellamente aproveitado peio Dr. Betim Paes Leme.

Quanto á mineralogia ou sem ambages - quanto ao que interessa mais a alma das massas quanto ás minas, parece que os profissionaes da Commissão têm sido mais philosophos que outra cousa. Matto-Grosso tem sido sempre uma terra da Promissão n'esse sentido; as riquezas do Coxipó da Ponte, do Cuyabá, de S. Vicente, de Urucumacuan são tradicionaes.

O mappa de Foetterle para região dos diamantes a convergência dos formadores do alto- Paraguay sobre a fóz do Sepotuba ; nós cruzámos a velha estrada que, pelo alto da serra dos Parecis vae ter á S. Vicente. Em Ta- pirapoan disseram-me na fazenda dos Affonsos «aqui é o cascalho aurí- fero»— «ali é o terreno dos diamantes». Essa fazenda hoje pertence á um syndicato allemão. Mas, os relatórios da Commissão pouco adiantam. Paes Leme f a liou no cascalho diamantifero de Roncador; Cicero me fallava no quartzito de amolar. A carta de Foetterle a região da encosta dos Pa- recis como de itacolumito. De tudo isso, porém, parece haver uma indicação segura o Snr. Moritz, deixando a Commissão foi, ao que me consta, re- querer uma concessão de terras ao 'governo de Matto-Grosso. O Snr. Moritz é um mineralogista norte-americano.

São estas as principaes deducções á tirar do trabalho da Commissão de até hoje elles, entretanto, ainda não- estão concluídos; espera-se pela pa- lavra do Dr. Eusébio de Oliveira.

Roosevelt adiantou-lhe o pensamento: «N'este ponto da nossa viagem, havia muita cousa que, á primeira vista, parecia ser um género de conglo-

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tolerado rom bolhas e cavidades, feito de areia e terra ferruginosa. EUe disse tratar-se de um deposito quaternário superficial, formado pela erosão de rochas cretáceas e que não havia ahi depósitos terciários ; elle descreveu a estructura geológica das terras pelas quaes passara, assim : Os panta- naes são da edade pleistocenica. Ao longo do alto Sepotuba; na região dos rápidos, ha arenitos, shistos e argilas da edade permiana. A zona que corre á Este contem rochas eruptivas, diabase porphyritica, com zeolitho, quartzo e agatha da edade triasica. Com o Chapadão dos Parecis chegamos á uma terra de areia e barro manchados de trechos de arenito e pedaços de ma- deira petrificados ; este, segundo Oliveira é da edade mesozóica, possivel- mente cretáceo e semelhante ás formações sul-africanas. Ha geólogos que o consideram permiano», (pag. 231 Through the Brazilian Wilderness). Tratemos agora da

Botânica

O primeiro trabalho publicado foi da lavra do Sr. Frederico Carlos Hoehne e trata de 101 plantas das famílias das Bromelias, Pontederias, Li- liaceas, Amaryllidaceas, Iridaceas, Orchidaceas, Aristolochiaceas, Drosera- ceas e Passif loraceas ; um opúsculo de 7 1 pags. in contendo annotações, diagnoses em latim e portuguez quando se referindo á espécies novas. Este volume de texto é illustrado por um atlas contendo 63 estampas originaes exe- cutadas pelo autor. Tanto o texto conijo o atlas são de 191 o.

A segunda parte publicada trata das Leguminosas determinadas pelo Dr. Harms, de Berlin ; trabalho ainda organizado e traduzido do allemão pelo Snr. Hoehne. São 15 paginas in 40 enumerando 63 espécies 191 2.

A terceira parte enumera 25 espécies de Melastomaceas, Cucurbitaceas e Orchidaceas pelo Dr .Alfredo Cogniaux, da Bélgica - - ainda ordenada e traduzida do francez pelo Snr. Hoehne que ainda illustrou-a com duas es- tampas de sua lavra. São 15 pags. in 40 1912.

A quarta parte traz 33 pags. in 40 sobre 70 plantas das famílias das Alismataceas, Butomaceas, Hydrocharitaceas, Pontederiaceas, Orchidaceas e Nymphaceas. I Ilustradas por 14 estampas; texto e estampa elaborados pelo Snr. Hoehne 1912.

Uma parte extra é constituída pelo relatório botânico apresentado pelo Snr. Hoehne ao Coronel Rondon e referente á Expedição Roosevelt-Rondon 81 pags. in 40 1914.

Enumera 126 espécies de plantas de 57 famílias diversas, acompanha- das de 25 estampas bellamente executadas, tudo isso precedido de 19 pagi- nas sob o aspecto ph\ togeographico de Matto-Grosso egualmente illustrado por muitas photographias originaes. Como se e o próprio autor o diz, - não tem elle ainda os elementos para execução completa desta ultima parte ; á saber um mappa phy togeographico.

A V parte é constituída por outra contribuiçiio cuidando das famílias das Myrtaceas, Xyridaceas, Commelinaceas, Liliaceas, Amaryllidaceas, Irida-

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ceas, Musaceas, Zingiberaceas, Cannaoeas, Marantaceas, Burmaniaceas, Or- chidaceas, Aristolochiaceas, Phytolaccaceas, Nyctaginaoeas, PassifLoraceas e Onagraceas.

Enumera esse fascículo 1 1 5 espécies das quas 1 5 novas e 7 varieda- des egualmente novas.

As 87 paginas do texto vem illustradas por 34 estampas, em parte de- senhos executados pelo autor, em parte photographias.

Finalmente a parte VI contendo o estudo de 220 plantas d'outras cin- coenta famílias feita com a mesma proficiência e o mesmo carinho de sem- pre— em 96 paginas in 40 illustradas por 20 bellas estampas.

Não o trabalho do desenho é irreprehensivel como a sua execução em nada inferior á tudo quanto se exige na presente epocha para trabalhos d'essa natureza.

Estas duas ultimas memorias estão sendo distribuídas agora é natu- ral, portanto, que á respeito não exista ainda critica.

Nos satisfazemos em relatar, por alto, os resultados scientificos adqui- ridos ; por isso, não é de mais que saalientar que, de tudo quanto até agora está publicado pela Commissão, relativamente aos trabalhos acima citados resultaram um primeiro esboço phytogeographicos da zona percorrida e de muitas espécies novas raoonhecidas pela critica botânica mundial.

Não será, portanto, louvaminha excessiva referir que o nosso patrício tem arrancado applausos de botânicos brasileiros como Drs. Leonidas Da- másio e Alberto Loefgren e Álvaro da Silveira bem como de autoridades estrageiras, dentre os quaes cumpre salientar Cogniaux, da Bélgica, Malme da Suécia e Engler da Allemanha e Spencer Moore, da Inglaterra. Um dos actuaes bons conhecedores da nossa flora, o Dr. P. Dusén, teve ensejo de me referir elogios á Hoehne e nenhum melhor elogio pôde ter um natu- ralista que verificar os seus trabalhos transcriptos nas revistas de critica scientifica. Aqui vos mostro uma delias: Repertorium specierum novarum regni vegetabilis que se publica em Dahlem (Berlin) o que quer dizer, no cérebro da elaboração botânica hodierna), n.° 37 de 31 de Dezembro de 19 14, onde estão transcriptas todas as descripções das espécies novas da primeira parte do trabalho de Hoehne. A' seguir vem as elaboradas por Co- gniaux (n.° de Abril de 191 5 ) ; e é de esperar que as demais partes do tra- balho que estamos citando mereçam as referencias dadas aos primeiros.

O Snr. Hoehne é positivamente um botânico na accepção da pa- lavra— quero dizer com isto que a minha confiança é completa quanto ao êxito dos estudos que o Coronel Rondon lhe confiou ; e como conclusão das referencias que \ enho fazendo devo vos dizer que muitas das bellas estam- pas que illustram trabalhos do Martius brasileiro, elle as fez ao meu lado, dentro da embarcação em que ambos singrámos os rios Matto-Grossenses, esquecidos do Mundo ao virar das paginas da Natureza brasílica.

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Anthropologia

Colloco-a antes da Zoologia propriamente dita, para melhor clareza da minha exposição :

o Dr. Roquette Pinto nas suas brilhantes conferencias aqui realisadas, deu conta de quanto fez a Cornmissão Rondon, n'esse terreno : Existe o homem selvagem na região percorrida; existe ahi o homem na edade da pedra; foram encontradas 20 nações indígenas; foram conhecidas as sub- divisões politicas dessas nações, localizados os seus limites geographicos ; houve uma avaliação aproximada do numero de almas que as compõem e des- criminou-se as suas relações phylogeneticas e estudou-se os seus usos e costumes.

E as próprias conferencias de Roquette são ainda um resultado dos serviços da Cornmissão que, pela face sociológica assegurou, mais, aos brasileiros civilizados, a possibilidade de expansão pela Rondonia, até hontem em poder exclusivo daquellas nações selvagens.

«O trabalho de Rondon é. dis se-me o Snr. Barão Erland Norden- skjõld, tão importante e grandioso que dentro destes cincoenta annos vindou- ros será único : o meu trabalho bem como o de Roosevelt são seus complementares.»

Tudo quanto até agora foi publicado pela Cornmissão acha-se repre- sentado no Annexo n.° 5 parte de Ethnographia pelo Coronel Rondon, se- guido d'uma descripção de material feita pelo Dr. Roquette Pinto.

Constitue essa publicação um in 40 de 57 paginas e 16 estampas,, algumas das quaes documentos históricos d'um inestimável valor e prova- velmente os últimos que o homem civilisado possa ver das duas nações Parecis e Nhambicuaras.

Também n'este terreno não foi dita a ultima palavra sobre a acção de Rondon. depois das conferencias de Roquette os jornaes publicam telegrammas seus annunciando o seu contacto com tribus novas ; e quando elle tiver dado por finda á sua missão do Norte, ainda ha á esperar, como remate do seu trabalho titânico, a sua exposição em conjuncto sobre os Índios de Matto-Grosso.

Zoologia

Até agora publicou a Cornmissão os seguintes trabalhos, 110 Annexo n.° 5, parte referente a esse ramo de sciencias naturaes :

1) TABANIDEOS, pelo Dr. Adolpho Lutz Comprehende a enume- ração de 1 5 espécies, sete das quaes novas, sendo seis do género Tabanus e uma do género Dicladocera. O fascículo traz as descripções das especi s novas e respectivas figuras, bellamente executadas pelos Snrs. Rud. Fishcr e Castro Silva, de Manguinhos.

2) CRUSTÁCEOS, pelo Snr. Carlos Moreira -- O material colligido permittio ao auctor uma revisão completa dos crustáceos brasileiros da fami-

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lia Argulidae. Além das espécies colligidas, todas as quaes agora tra- zidas ao Museu, figuram mais quatro espécies das familias Palaemonidae e Potaitwnidae. D 'esta ultima ha uma espécie nova, também descripta e figu- rada. Illustram o trabalho sete estampas contendo 10 figuras e sete photo- graphias executadas pelo auctor.

3) LORICARIIDAE, etc., pelo conferencista -- Contem 50 espécies de peixes d'agua doce; 12 espécies e três géneros novos ahi são descriptos, dentre os quaes dous muito curiosos por pertencerem á um grupo de peixes considerados parasitas de outros peixes.

São egualmente resolvidas ahi algumas questões de morphologia. O trabalho é acompanhado de uma estampa com 3 figuras executadas pelo auctor.

4) PIMELODIDAE, etc, pelo conferencista Contem quarenta e qua- tro espécies de peixes d'agua doce, dentro os quaes 4 novas ; illustram o tra- balho duas figuras de texto e 2 estampas com 7 figuras.

5) MAMMIFEROS, ainda pelo mesmo auctor Contem a enume- ração de 84 espécies dentre as quaes cinco novas. Resolve diversas ques- tões de taxonomia e morphologia e encerra muitas notas sobre zoogeogra- phia. O trabalho é acompanhado de 24 estampas, reproduzindo photo- graphias originaes, muitas d'ellas pela primeira vez tiradas de animaes em estado natural.

6) MOLLUSCOS, pelo Dr. Hermann von Jhering 20 espécies, das quaes 3 novas e muitas raras todas bellamente illustradas.

Quanto aos dous primeiros, 40 e 50 inda não chegou ao meu conhe- cimento nenhum trabalho de critica. Quanto aos restantes posso informar estarem sendo applicados, o que é uma prova a sua acceitação.

Nos Annals of the Carnegie Museum vol. VIII N.°* 3-4 March

1913 The Plated Nemathognaths por M. D. Ellis «Depois que esta me- moria ficou concluída e antes que fosse publicada, o Snr. C. Tate Regan publicou uma revisão do género Corydoras (Inclusive Osteogaster) com uma lista dos espécimens do Museu Britannico (Ann. Mag. Nat. Hist. (8), 209-220

Aug., 1912), e o Snr. Alipio de Miranda Ribeiro publicou o volume IV. da sua (Fauna Brasiliensr» Peixes e n'um relatório, entre outras cousas,

dos Callichfhyidae da Commissão de Linhas Esíraáegicas Telegraphicas de Matto Grosso ao Amazonas Sept. 1912. A publicação destas memorias de- terminou ama revisão parcial do Manuscripto de Ellis o que foi feito pelo Dr. Eigenmann (encarregado da secção Ichthyologica do Museu Carnegie).

O volume de «Physis» de Buenos Aires, n'um artigo que se occupa da Bibliographia das Sciencias naturaes da America Latina, acima citado refere as vantagens da publicação do 6o fasciculo do annexo n.° 5 da Commissão vantagens adquiridas sob o ponto de vista descriptivo como zoogeographico.

Da Inglaterra (por Thomas, do Mus. Britânico, Kerr da Universi- dade de Edimburgo), França (por Houssey, da Sorbone), da Rússia (por Ivan Strelnixov, de Petrogrado\ da Áustria (por K. Toldt Jr., de Vienna), che-

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gam referencias e pedidos do fascículo 5 do mesmo annexo os quaes por se- rem 'muito pessoaes e tratarem do conferencista deixo de ler aqui.

Assim, em todos os ramos do serviço de Historia Natural vae o Co- ronel Rondon dando o cumprimento á sua missão de modo compativel com a epocha actual do globo. As 15 memorias aqui enumeradas, bem recebidas e procuradas em toda a parte onde haja comprehensão do seu valor, consti- tuem uma prova evidente do alto critério scientifico que as tem dominado e da nitida comprehensão de verdadeiro patriotismo, característico principal daquelle preclaro brasileiro.

ESTATÍSTICA

Abordemos agora os números : Englobando o material estudado ao que ainda resta por estudar para enumerar tudo quanto a Comlmissão colheu. Temos descriminadamente a seguinte estatística:

Geologia é mineralogia

Períodos Números de exemplares

Cari Carnier 1907-1908 ?

Dr. Cicero de Campos 1908-1910 42

Drs. Euzebio Oliveira e Moritz . . . 1910-1915

Total 42

Itotanica

Frederico Carlos Hoehne 1 908-191 o 1.900

Fred. C Hoehne e irmãos Kuhlmann 1910-1912 . . .... 5-675

Fred. Carlos Hoehne 1913-1914 226

Fred. Carlos Hoehne 1914-1916 1.036

Total 8.837

Zoologia

Períodos Números de exemplares

Expedição Rondon ao Madeira . . 1908-19 10 .... . . 3.600

Hoehne e Gd.° Kuhlmann 1910-1912 200

Hoehne, Black, Reinisch e Dr. Serapião 1913-1914 . . . 183

Tte. Pyrineus de Souza e E. Stolle . 1913-1914 225

Tte. Pyrineus de Souza e Antor. Pires 191 4- 19 15 217

Coronel Rondon e Emil Stolle . . . 1914-1915 . . 1.195

Tte. Vasconcellos-Dr. Serapião ... 191 4-1 91 5 17

Total 5.667

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Antropologia (Etlinogr.)

Cel. Rondon e Dr. Roquette Pinto . 1908-1915 3-380

Quer da parte da Botânica quer da Zoologia, foram excluídos os tu- bos com o material mais susceptível de deterioração. E além d'isso, toda a contagem feita ainda depende de retificação que vae sendo operada á me- dida que o material vae sendo estudado, rotulado e catalogado, da maneira mencionada. Estes números faliam bem alto, sobretudo se considerarmos que as collecções eram1 feitas á par das explorações topographicas e outros trabalhos da Commissõo, evidentemente inadequados ás conveniências da col- lecta propriamente dita.

2. Conferencia

0 Museu Nacional

Segundo dados officiaes e ofticiosos

A Commissão Rondon e o Museu Nacional

ii

O Museu Nacional do Rio de Janeiro, segundo dados officiaes e officiosos

Dous entes, no mundo, são o ojecto do nosso primeiro affecto : Pae e Mãe. Inútil é pintar quanto são queridos na nossa meninice, quanto d'elles nos valemos quando ainda os frouxos passos e a tenra edade e o medo dos perigos e Papões nos fazem correr ao seu regaço, como ao ninho quente e protegido buscam abrigo as avezinhas que emplumam, ao passar das som- bras de possíveis milhafres. Inútil é lembrar com que affecto, a consciência crescida e o corpo forte á lucta, olhamos depois aquelles que foram o nosso ser, depois o nosso amparo e sempre amigos, solicitos, nobres e bons, ainda nos dispensam os carinhos de sempre ; e então, menos fortes do que nós, invertem os papeis e começam á tremer e á receiar por sua vez a sombra dos Papões na vida de seus filhos . . . E dentre vós aquelles que afinal e como eu, experimentaram a crueza inflexível da morte, podem avaliar, na dôr dessa saudade eterna para a nossa vida, toda a grandeza da amizade que ao ente perdido consagrávamos.

Mas ha um momento em que todos nós temos uma apparencia de des- gosto contra esses seres caros do nosso primeiro e mais forte amor; e é quando, usando da sabedoria que lhes deu o tempo, elles ponderam, ao moço no lumiar da arerta das luctas pelo futuro, um conselho amigo, fructo de experiência que elles por amor de nós nos offerecem: Não faz assim, meu filho, que te succede mal I E a vontade nova, estuante, anciosa de ver em facto o que o espirito ardente sonha em projecto impeccavel, repelle amuada o conceito antigo do «velho» medroso e sem razão ou da timida «velha» cheia de anceios de amizade em demasia . . .

E quando, ás vezes, mais tarde, nos azares da vida verificámos a sabedoria do conselho perdido, todo o altruísmo que o dictára, então corremos á beijar as tremulas mãos do vero amigo proclamando-lhe a razão...

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Porém, a impávida Sorte nem sempre é favorável ; e ás vezes succede que então, os nossos lábios sequiosos apenas encontram a indifíerença d'um la- pide, mais fria e dura que a acerada ponta duma flecha ! Se tal succede á um Pae, o que não succederá á cada um de nós, nos labores quotidia- nos ? Assim, todos sabemos que uma vez, ao menos, na vida, somos desagra- dáveis. E Lafontaine o disse de modo imperecível. O peior é justamente a existência desses momentos em que, conscientemente, temos o dever de desagradar á todos . . . quando mais n ão o seja, senão para lavar as mãos . . . como Pilatos . . .

Sempre foi meu vezo tornar úteis todas as resultantes dos meus actos, pois eu sou da velha escola portugueza dos que plantam as jaboticabas para os filhos e netos, embora procure os methodos por ultimo provados bons. Ôra, o Coronel Rondon tendo até hoje escolhido o Museu para o archivo dos documentos dos estudos de sua commissão, é preciso saber o que é o Museu e se elle vale a acção do Coronel ; e tendo optado por homenagens á este, estas conferencias á fim de commemorar-lhe os serviços o que

foi bem recebido e amparado por todos d'esta casa reparto entre o Coro- nel e o Museu a attenção, procuro honrar á um e servir ao outro na minha acção, servindo ao mesmo tempo á nossa Pátria.

Tenho no coração a certeza de que elle mie applaude pois o movi- mento é justo.

Succede porém que o Museu é um serviço publico onde muitos labora- ram. Dahí o ter de tocar ás vezes emj melindres alheios, talvez ferir . . . quem sabe?... Mas quem ficará mal ahí ? Eu... Então, embora não seja o pae que falle ao filho, mas o cidadão que falle ao estado; embora não seja o velho que falle ao moço mas o experimentado que em terra estranha mostra o caminho ao conterrâneo, eu me disponho ao sacrifício, desde per- doando os que divisarem o mal n'esse meu acto, desde bemdizendo os que quizerem tirar proveito das minhas palavras em beneficio do Museu e mie ajudarem á cumprir o que a minha consciência, sem interesses subalter- nos, manda.

Assim, com o lembrete prévio de que não viso pessoas e sim actos, de que nada mais pretendo senão que todos concorram para o Futuro d 'esta casa que é um património nacional, por hoje vos peço estudar, com- ungo, o Museu Nacional segundo dados officiaes e officiosos.

Vejamos dous trabalhos publicados sobre este estabelecimento: um da lavra do Conselheiro Ladislau Netto e outro do Dr. João Baptista de Lacerda.

O segundo completa e elucida o primeiro; e ambos têm a evidente preoceupação de fazer a historia do Museu.

Do archivo que documente esses livros, parece existir apenas o que se refira mais ao segundo.

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Por esses livros, o primeiro dos quaes tem o titulo de «Investiga- ções Históricas e Scientificas sobre o Museu Imperial do Rio de Janeiro» e foi publicado em 1870 e o segundo, «Fastos do Museu Nacional do Rio de Janeiro», e foi publicado em 1905, é-se informado que o Museu vae completar um século cem annos de existência - em 19 18, pois de 6 de Junho de 18 18 data o decreto de fundação do Museu Real da Corte, destinado á «propagar os conhecimentos e estudos das sciencias naturaes do Reino do Brasil»; embora anteriormente á esse decreto, o adiantado José Luiz de Vasconcellos fizesse a primeira tentativa de creação de um museu, com a Casa dos Pássaros que ainda existia em 181 1 no Campo de Sant'Anna, emquanto que o edificio próprio tinha começo de edificação na mesma épocha e no local onde hoje existe o Thesouro Federal.

«Entre os sexagenários de hoje, diz Ladisláu Netto em 1870, muitos existirão á cuja lembrança não deve ser estranha uma elegante arcaria de granito -- entre começo e ruinas -- erguida no mesmo logar em que vemos actualmente o Thesouro Nacional : essa arcaria éra o principio do Museu de Historia Natural brasileira, tal qual o havia concebido o memorável Luiz de Vasconcellos, vice-Rei do Brasil, tal qual o abandonaram! e inutilizaram depois as administrações ignavas que lhe succederam.»

O Director da Casa dos Pássaros foi o brasileiro Francisco Xavier Cardoso Caldeira, que teve 2 ajudantes, 3 serventes e 2 caçadores. Em 18 10 deram ao primitivo museu outro director : o Dr. Luiz António da Costa Bar- radas, que o enterrou muito piedosamente, sendo as collecções inutilizadas.

Em 18 18 éra outro o museu não mais uma Casa de Pássaros, não mais um museu de zoologia mas o Museu complexo de que sou hoje fun- ccionario. Entregaram-n'o á um frade Frei José da Costa Azevedo, dan- do-lhe por auxiliar (guarda e porteiro) um discipulo de Xavier Caldeira; e á este, um ajudante. E todo o material que particulares offereciam para a construcção do edificio, ia sendo empregado na construcção do Quartel do Campo de Sant'Anna e no Arsenal de Marinha.

Depois de Frei Azevedo foi director do Museu o seu porteiro, João de Deus e Mattos e depois d'este 8 directores diversos se succederam nesta casa, até a épocha do Dr. Lacerda.

Vamos fazer unia resenha do seu valor material na presente épocha, quasi cem annos depois de sua fundação.

Vamos por ordem :

Secção de geologia, mineralogia e paleontologia

O Snr. Dr. Oscar Publio de MelLo foi o auctor da lista do material que o Dr. Alberto Betim Paes Leme ahi encontrou; e nesta lista estão citados 5.150 números.

Segundo os elementos de consulta de que dispomos podemos resumir essa secção pela seguinte forma :

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Uma collecção de Mineralogia exótica - - a celebre collecção de Wer- ner da antiga Academia militar, comprada pelo General Napion para essa es- cola, pela quantia de 12 contos, ao cavalheiro Tabst von Oheim que a hou- vera de Werner.

Uma collecção mineralógica feita pelos membros da primitiva Com- missão Geológica.

Uma collecção paleontologica da mesma procedência.

Restos de um Glyptodonte trazido por von Sellow.

Restos de Mastodonte (da mesma origem?).

Um Megatherio, trazido de Jacobina, da Bahia, pelo zoologo C. Schreiner.

Uma collecção speleologica andquirida do Snr. Ricardo Krone.

Uma collecção adquirida do Snr. Ramusch. E pouca cousa mais.

Secção de Botânica

E' do respectivo Professor a seguinte informação á directoria de Es- tatística da Republica :

Data Collecções Existiam em 1988 El>i9?oM T91Ó"

1818-1865. Sem registo, segundo indicação aproximada do Dr. Ladislau

Netto (Investigações históricas) . 6.138 6.138

1866-1 865. Com indicação ou registro:

Herv. Allemão-Cysneiros (Seg. Netto) 1.500 1.500

Herv. Brasil 30.584 .... 212 . . - 30.796

Herv. PI. exóticas ........ 3.077 3-077

Fructos e sementes 391 39 *

Madeiras e lianas .... ... 455 455

Fibras e pasta para papel 68 68

Óleos, resinas, etc 74 74

Total .... 42.287 .... 212 .. . 42.499

A minha opinião, á respeito do material botânico existente no Mus- seu, é diversa da do Professor Sampaio, se bem que sob o ponto de

vista seientifico tenha o mesmo valor quero dizer é uma aprecia-

ção aproximada, com fundamento em dados exteriores ao Museu.

O Professor Sampaio baseia-se principalmente em L. Netto e o tra- balho d'este se nos affigura erróneo, se começámos á contar as estatísticas desde Frei Custodio Alves Serrão até o que hoje sabemos, pelas referen- cias das bibliographias de cada um dos contribuintes do herbario do Mu- seu e constantes do fascículo CXXX isto é, o ultimo da Flora de Martius Abril de 1906.

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Segundo o próprio Ladislau Netto - - op. cit., pag. 62-0 primeiro inventario do Museu presente ao Governo do Império e constante do periodo de 1818 á 1836 continha 1.600 plantas.

E' o mesmo Netto quem diz á pag. 288 que «Riedel, chamado para director da Secção de Botânica, fez imrnediatamente presente ao estabeleci- mento de todas as suas collecções particulares; e tanto bastou para que o her- vario, á principio insignificante, tomasse de repente uma certa ampliação e começasse á merecer, de facto, este titulo».

ôra, o Prof. Sampaio, dando para Riedel e Sellow 65 números e para